Letras Virtuais

Na grande rede que é a internet circulam muitas informações e em velocidade recorde. Isso já está cansado de ser dito. Mas poucas vezes paramos para pensar no que exatamente circula pelos monitores em cada casa. O que sempre pensamos, e que não deixa de ser verdade, é a variedade dessas informações. Nessas linhas pretendo eu abordar o espaço onde circula as informações culturais, mais especificamente o que tange a literatura para apenas mostrar um panorama das questões que envolvem essas áreas na internet.
Podemos hoje encontrar muitos sites onde se formam opiniões. Sites de todos os tipos, mas a produção cultural na internet acaba ficando restrita aos blogs. Esses mini-sites, pessoais ou grupais, funcionam como diários, cadernos de poesias, de contos, de citações, de quadrinhos, enfim de quase tudo o que se possa imaginar. A facilidade com que se busca informações faz da grande rede um prato cheio de temas para escrever, desenhar, etc...
O que há de diferente nisso tudo? O suporte. Onde se inscreve tudo isso, além da facilidade de acesso a essas produções. Os recursos dos computadores são cada vez mais incrementados e permitem desde montagens fotográficas à inserção de hiperlinks em textos. Tudo isso já modifica radicalmente o contato com esses objetos artísticos que não são mais táteis. É claro que há muita coisa ruim por esses blogs. Circulo já há algum tempo por esse meio procurando bons escritores e poetas, já encontrei alguns, também alguns pensadores se revelaram de forma inesperada, com opiniões fortes, porém pouco ouvidas/lidas. O interessante é que a maioria desses blogs abre um espaço para a discussão no espaço destinado aos comentários dos leitores. Ou ainda pode-se facilmente encontrar grupos de discussão organizados também pela internet onde ninguém se conhece, por vezes sequer moram no mesmo país, mas estão todos interligados. Esse espaço de discussão era somente encontrado em meios acadêmicos. Não pretendo tornar equivalentes universidades e internet, mas inclusive as universidades cada vez mais se apropriam das facilidades da internet para melhorar sua comunicação com os alunos e ainda enriquecer as aulas.
Sendo eu um estudante de Letras, me apego bastante às questões literárias. Nessa grande área as mudanças são muito significativas. O suporte que é o computador permite criações que os livros não podem abarcar. Ou mesmo quando podem não são economicamente viáveis às editoras fazê-lo. Como exemplo podemos pensar na poesia em movimento. Palavras que se movem na tela, ou ainda que mudam de cores, ou que se inscrevem sob filmes, cobre imagens, sem contar os já mencionados hiperlinks. Esses elementos enriquecem de certa forma essas produções mas que não podem ser pensadas fora do monitor, embora sejam de muita qualidade e inventividade. Surpreende-me tantos novos elementos numa área que parecia condenada a se enterrar em seus livros, ou em seus e-books.
Com essa nova facilidade de produção vem também a facilidade da cópia. Os direitos autorais quase inexistem no domínio desses blogs. Eles também já estavam afetados pela onde dos e-books, os livros virtuais, se pode, com certa facilidade, encontrar livros inteiros digitados ou escaneados disponíveis para download em sites de hospedagem. Pondo em xeque o mercado editor que precisa buscar renovações para não se prender somente ao livro. Basta pensarmos no mercado musical, ou em como é fácil baixar CDs da internet, como isso aumenta a pirataria, etc, e ainda como isso forçou bandas a buscarem novas alternativas (como o caso da banda Radiohead que disponibilizou o CD na internet para livre download em que o fã poderia pagar o valor que quisesse pelo álbum, poderia inclusive não pagar).
Todos esses novos formatos também exigem novas ferramentas de análise para a crítica, o que resultaria numa reforma, ou em alterações nas grades curriculares das faculdades. Os meios acadêmicos resistem e ainda tratam essas formas de expressão como inferiores. A dificuldade de se manter atualizado em meio a tantas informações que aparecem e desaparecem em intervalos de frações de segundo também não facilita esse trabalho, mas isso talvez só ocorra porque esses espaços, essas expressões estão num período de consolidação. Mas talvez elas nunca se estabilizem e jamais serão estudadas a fundo. Cabe a nós, meros navegadores, ou surfistas, encontrar, acompanhar e muitas vezes abrir caminhos para esse estudo que pode ser promissor e acabarmos com essa idéia de que se não está no livro a informação não vale a pena, a expressão não é boa. Cabe lembrar o exemplo de vários escritores renomados que foram muito rejeitados em editoras até conseguirem publicar o seu primeiro livro. Os blogs e sites são um portal, um varal onde se expõe as mais variadas expressões e que deve ser aproveitada por críticos ou por mero desfrute.
Gabriel Fernandes, estudante de Letras, publicas poemas e outros textos no blog http://eusoutchurbs.blogspot.com

1 comentários:

Anônimo

Quantas coisas a se pensar... E quantas outras que se podem melhor utilizar.Percebo através de conversas e vivências na escola que ainda há muito a ser explorado e usamos (pois me incluo nessa)quando não as mesmas páginas de busca ou leitura de e-mail, sites e afins. Alunos?Bem eles se atêem ao "orkut", ao "messenger", e vez ou outra ao e-mail...E quanto mais podemos navegar?

Tatá Mamprin